
Amanhã, uma quarta-feira dia 16, repórteres de suéter no estúdio profetizarão que a frente fria está a caminho de nós e por isso o tempo será ruim por aqui e bom acolá....Se a chuva chover é melhor que eles comecem a nadar ou afundarão como uma pedra de lastro.
Quando a chuva chega, eles correm e escondem suas cabeças, parece que vão morrer por causa disso. São só umas gotas, mas papéis com escritos outrora importantes, bolsas e guarda-chuvas protegem as faces da água fácil. E quando novamente, depois da trégua, as nuvens choram, tiram eles dos armários seus casacos, se fecham em casa e em si bemol.
Procuram desesperadamente abrigo embaixo de uma mangueira, mas em 5 minutos a mangueira também chove, os seus guarda-chuvas já viraram ao avesso, mas marquises há.
Eu e você não nos importamos muito, não é mesmo? Pode até nevar, o que por aqui só na próxima era glacial. Estaremos lá a “...ouvir a água escorrer, lavando o tédio dos telhados que se sentem envelhecer..” como diria o Bandeira.
Por mim pode chover, eu deixo... ficarei por aqui mesmo, dançarei à melodia esperando que o sol certo seque as poças que meus passos criaram. Eu que sou alérgico agradeço. A poluição dorme e meus alvéolos respiram um ar com cheiro de terra e flores. “O ar fica mole”: lembra-me Bandeira escrevendo lá de Pasárgada, de mãos dadas com a Estrela da Manhã.
Depois que os repórteres anunciarem entre sorrisos o tempo “bom” e tudo clarear, seu rosto claro refletirá o sol e aí, enxuto aos vinte e tantos, te mostrarei que tanto faz: o clima sempre será bom para e entre nós.
São 17, a pele seca, o chuvisco acaba, eles descansam na sombra e tomam limonada. Pensam que dessa forma a vitamina os protegerá. Terríveis doenças a chuva trouxe! Somente quando no oriente surge a luz, as peles se desnudam sem proteção, permanecem, porém, as almas em si e na sombra.
Onde e quando eles aprenderam a evitar a chuva e o vento? Quando crianças, na tempestade, pulavam no quintal e logo depois tomavam banho “de sabão”. Chover era festa. Talvez propagandas de efervescentes tenham ensinado que chuva é ruim, igual a manga com leite.
Quanto ao sol, bem ... no sol já perdi varias camadas e à minha epiderme peço perdão. Agora prefiro final de tarde na praia a me ungir no ritual moderno e patético. Mas crianças,.... usem protetor solar pelamordeDeus! E a despeito de vossas mães que merecem respeito desmedido, façam-se surdos seus ouvidos e acreditem: Chuva é bom, e melhor ainda é tomar sorvete depois com você menina. Olhos e cabelos molhados sorrindo para mim.
Julio Lins, Salvador, 16/12/2003.
Citações e referências de : “Rain” (Lennon/McCartney), “Enquanto a chuva cai” (Manuel Bandeira) e “Times they are a’changing” (Bob Dylan).